Tráfico. Na rua Helvétia, o oxi é vendido aos gritos de "pedra de R$ 2";
As
pedras, que são vendidas por R$ 2, cinco vezes menos do que o crack,
matam um terço dos viciados já no primeiro ano de uso. Especialistas
dizem que a nova droga deve agravar ainda mais os problemas de saúde
pública na Luz, região central, onde centenas de dependentes químicos
vagam dia e noite.
As
pedras de oxi são feitas de pasta base de cocaína acrescida de cal
virgem, querosene ou gasolina, ingredientes mais baratos e corrosivos do
que o bicarbonato de sódio e o amoníaco, que compõem o crack. Segundo
especialistas, assim como o crack, o oxi é capaz de viciar nas primeiras
vezes em que é consumido.
Entre
os dependentes que circulam pela cracolândia, o oxi é conhecido como "a
pedra de R$ 2". O comércio de drogas nas proximidades da Estação Júlio
Prestes é livre, a qualquer hora do dia ou da noite, como em uma feira
livre com mais de 150 pessoas. As pedras de R$ 2 surgem em pequena
quantidade nas mãos dos traficantes, que também são usuários e fazem a
venda para sustentar o próprio vício.
Na
Rua Helvétia, há também uma feira do rolo, onde viciados negociam
roupas usadas, tênis, produtos eletrônicos e até objetos sem valor
aparente em um escambo frenético, sempre tendo a obtenção das pedras
como objetivo final. Lá, o oxi é oferecido aos gritos de "pedra de R$
2!". A droga é uma opção ao crack, cuja pedra custa R$ 10 e permanece no
topo da preferência dos "noias". Assim são chamados os dependentes de
droga da região, que reagem de forma agressiva. Confundido com policial à
paisana, o repórter do Estado foi agredido por um grupo de usuários na
última semana.
As
apreensões realizadas na cracolândia ainda não foram capazes de
detectar o oxi, mais por questão de método do que por falta da droga no
mercado. "No exame do Instituto de Criminalística, dá positivo para
cocaína. Como é em pedra, fica caracterizado como crack, mas também pode
ser oxi", afirma o diretor da Divisão de Educação e Prevenção do
Departamento de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc), Reinaldo Correa.
A
partir de agora, as pedras apreendidas serão testadas também para oxi.
Há indícios de que 60 quilos de crack apreendidos em março na capital
sejam, na verdade, oxi. Amostras foram queimadas e restou óleo,
característica da nova droga.
Mudança.
Para especialistas, oxi deve ganhar espaço entre usuários de crack. "Se
oferecer àqueles que já estão na sarjeta algo mais barato e poderoso, a
aceitação será maior. O serviço municipal de saúde está rendido e
ficará em situação ainda pior", diz Ronaldo Laranjeira, psiquiatra e
especialista em dependência química.
Nas
ruas, o oxi deixa um rastro degradante, que começa pelos resíduos de
querosene nos cachimbos e avança até o vômito e a diarreia persistentes,
algumas das diferenças em relação aos efeitos do crack. "Causa um
isolamento e eles (os dependentes) têm "barato" até na própria sujeira",
diz Correa, do Denarc.
Por Júnior Campos com Estadão
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