Crédito: Maná E.D.I
Tudo
começou em um hospital. Aos 18 anos, o inglês Ed Cooke teve de ficar
meses internado para tratar um problema na perna. Para espantar o tédio,
decidiu dar uma chance a um presente que ganhara de alguém: um livro
com exercícios de memorização. Cinco anos mais tarde, Cooke era Grande
Mestre de Memória – só existem 35 no mundo. Guardar uma sequência de mil
dígitos aleatórios em menos de uma hora, a ordem precisa de 56 cartas
de 10 baralhos na hora seguinte, decorar livros de 700 páginas – Cooke é
capaz de tudo isso. E você também.
Em 2003, uma pesquisa conjunta de duas universidades inglesas comprovou que o cérebro de gênios memorizadores é igual ao nosso. A diferença é que Cooke e outros participantes de campeonatos de memória treinam constantemente para aprimorar sua capacidade. Partindo de princípios simples, apresentados nas próximas páginas (construir uma história, explorar um cenário conhecido, pensar em situações ridículas), é possível lembrar quantidades extraordinárias de informação. O sujeito começa decorando a lista de compras e termina sabendo localização e preço de todos os produtos do supermercado. Sem falar, claro, nas vantagens bem palpáveis de lembrar onde você deixou as chaves, o aniversário dos parentes e conteúdo daquela prova semana que vem. Só depende da sua disposição – até porque você não nasceu pra isso.
Em 2003, uma pesquisa conjunta de duas universidades inglesas comprovou que o cérebro de gênios memorizadores é igual ao nosso. A diferença é que Cooke e outros participantes de campeonatos de memória treinam constantemente para aprimorar sua capacidade. Partindo de princípios simples, apresentados nas próximas páginas (construir uma história, explorar um cenário conhecido, pensar em situações ridículas), é possível lembrar quantidades extraordinárias de informação. O sujeito começa decorando a lista de compras e termina sabendo localização e preço de todos os produtos do supermercado. Sem falar, claro, nas vantagens bem palpáveis de lembrar onde você deixou as chaves, o aniversário dos parentes e conteúdo daquela prova semana que vem. Só depende da sua disposição – até porque você não nasceu pra isso.
Crédito: Maná E.D.I
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Até
os mais atentos são vítimas da “curva do esquecimento”, descoberta pelo
psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus no século 19. Você esquece metade
do que aprendeu só na primeira hora após aprender. Para driblar essa
sangria cognitiva, o psicólogo Hal Pashler, da Universidade da Califórnia, sugere o estudo parcelado. Pegue o tempo que você tem até a prova e divida o conteúdo em 10 partes, dando o mesmo intervalo entre as 10 sessões de estudo. Assim, você só aciona o cérebro quando ele está pronto para reter novas informações. |
CABEÇA DINOSSAURO
Nosso
cérebro foi feito para lembrar de muita coisa. Durante a evolução, o
ser humano sobreviveu se deslocando para coletar recursos e depois
retornar para sua comunidade. E foram essas demandas que esculpiram
nossas memórias, não as do mundo moderno. Como regra geral, você nunca
vai esquecer das suas necessidades básicas (comer, dormir), e talvez nem
sempre lembre do que a sua cabeça pré-histórica considere supérfluo –
nas cavernas não havia contas para pagar nem agendamento no dentista. Na
definição dos especialistas, uma boa memória de você enganar seu
cérebro, tornando memoráveis coisas que esse troglodita deixaria passar
batido.
É aí que entra em cena a mneumônica, o conjunto de técnicas conhecidas e ensinadas desde a Antiguidade e que fazem a fama dos Grandes Mestres de Memória. É bem verdade que essas técnicas andavam meio desacreditadas – ao longo do século 20, foram pouco estudadas pelos cientistas, que as viam como decoreba com grife. Mas a coisa começou a mudar no ano passado, quando os psicólogos cognitivos americanos James Worthen, da Universidade do Sudeste de Louisiana, e Reed Hunt, da Universidade do Texas em San Antonio, publicaram o livro Mnemonology: Mnemonics for the 21st Century. Nesse estudo aprofundado, a dupla se vale dos estudos neurológicos mais recentes para separar o joio do trigo mneumônico. Sobram de pé as técnicas apresentadas nestas páginas e a comprovação científica de que, aplicando-as, qualquer zé-mané pode lembrar do que quiser. Só faltava um zé-mané para provar isso.
É aí que entra em cena a mneumônica, o conjunto de técnicas conhecidas e ensinadas desde a Antiguidade e que fazem a fama dos Grandes Mestres de Memória. É bem verdade que essas técnicas andavam meio desacreditadas – ao longo do século 20, foram pouco estudadas pelos cientistas, que as viam como decoreba com grife. Mas a coisa começou a mudar no ano passado, quando os psicólogos cognitivos americanos James Worthen, da Universidade do Sudeste de Louisiana, e Reed Hunt, da Universidade do Texas em San Antonio, publicaram o livro Mnemonology: Mnemonics for the 21st Century. Nesse estudo aprofundado, a dupla se vale dos estudos neurológicos mais recentes para separar o joio do trigo mneumônico. Sobram de pé as técnicas apresentadas nestas páginas e a comprovação científica de que, aplicando-as, qualquer zé-mané pode lembrar do que quiser. Só faltava um zé-mané para provar isso.
Estamos
falando do jornalista americano Joshua Foer – até então, o irmão
anônimo do famoso escritor Jonathan Safran Foer. Treinando com Ed Cooke,
o mestre do início deste texto, ele passou de sujeito esquecido a
campeão americano de memória em 2006. E olha que não foi nenhum
sacrifício olímpico: “Durante 9 meses, eu treinei duas vezes por semana,
cerca de 20 minutos”, diz Froer. Ele narra sua trajetória no livro A
Arte e a Ciência de Memorizar Tudo, best-seller do New York Times, com
roteiro vendido para Hollywood, que tem lançamento no Brasil previsto
para agosto. O título em inglês, “Moonwalking with Einstein”, que
mistura o famoso passo de dança de Michael Jackson com o físico alemão, é
uma homenagem à técnica de criar imagens bizarras e inesquecíveis.
OK, posso decorar tudo que eu quiser. Mas pra quê? É uma pergunta válida. Mesmo na remota possibilidade de que dígitos aleatórios e decoreba de baralhos façam parte do seu dia a dia, para todo o resto existe auxílio digital: agenda de telefones no celular, caminhos no GPS, tudo no Google. Aliás, passar a memória adiante parece ser a alternativa mais sensata.
OK, posso decorar tudo que eu quiser. Mas pra quê? É uma pergunta válida. Mesmo na remota possibilidade de que dígitos aleatórios e decoreba de baralhos façam parte do seu dia a dia, para todo o resto existe auxílio digital: agenda de telefones no celular, caminhos no GPS, tudo no Google. Aliás, passar a memória adiante parece ser a alternativa mais sensata.
Crédito: Maná E.D.I
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Um dos vários estudos que comprovam essa regra foi realizado em 2008 por Jeffrey Karpicke, da Universidade Purdue. O psicólogo pediu para 40 voluntários aprenderem o significado de 40 palavras de suaíli, uma língua africana. Metade estudou como quis; a outra metade era constantemente forçada a lembrar as palavras durante a aula, sem consulta, mesmo sem saber se as respostas estavam certas ou não. A turma do laço frouxo acertou 36%. Os que tiveram a memória exigida acertaram 80%. Um jeito prático de usar esse método é fechar um livro a cada duas páginas lidas e tentar recordá-las. |
MEMÓRIA TERCEIRIZADA
Um
estudo da consultoria de TI International Data Corporation (IDC) mostra
a atual multiplicação da informação: o volume mundial de dados digitais
dobra a cada dois anos. “Como temos mais fontes de informação do que
nunca, há uma chance maior de esquecer exatamente o que queríamos
lembrar”, diz o psicólogo cognitivo James Worthen. Mas essa sensação
contínua e desagradável de esquecimento não surgiu com os smartphones.
Nem com a internet. Muito antes deles, outra novidade tecnológica foi
acusada de deixar nossa memória sem fio: a escrita.
O filósofo grego Sócrates, que viveu no século 5 a.C., temia que as letras pudessem “enfraquecer a mente dos homens”. Para ele, a escrita só poderia ajudar alguém a lembrar do que já sabe, e a invenção poderia levar a sociedade a um caminho de declínio moral e intelectual. Ironicamente, seus conhecimentos chegaram a nós por causa de Platão, seu discípulo recém-alfabetizado.
“As novas tecnologias nos livram de fardos. As calculadoras fazem aritmética por nós, e esquecemos como fazer contas. O ciberespaço é nossa memória coletiva”, diz James Gleick, escritor americano que ganhou 3 prêmios Pulitzer e em março lançou o livro The Information: A History, a Theory, a Flood, onde narra a evolução da informação até a enxurrada atual. Em julho, a psicóloga Betsy Sparrow, da Universidade de Colúmbia, nos EUA, publicou um estudo na revista Science em que analisou o impacto das ferramentas de busca em nossos cérebros. Após um experimento com 100 estudantes de Harvard, ela descobriu que esquecemos justamente o que sabemos que podemos encontrar na internet, lembramos melhor o que não está disponível online. Além disso, somos melhores em lembrar onde encontrar alguma coisa na internet do que da informação em si. Ou seja, o “efeito Google” atrapalha nossa memória retentiva de dados, mas aumenta nossas habilidades de procura. A internet virou, de fato, nossa memória externa. “Se escolhermos entregar nossa memória à tecnologia, talvez fiquemos livres para explorar nossa criatividade onde as máquinas ainda não podem competir”, afirma Gleick. E já há quem viva para isso.
O filósofo grego Sócrates, que viveu no século 5 a.C., temia que as letras pudessem “enfraquecer a mente dos homens”. Para ele, a escrita só poderia ajudar alguém a lembrar do que já sabe, e a invenção poderia levar a sociedade a um caminho de declínio moral e intelectual. Ironicamente, seus conhecimentos chegaram a nós por causa de Platão, seu discípulo recém-alfabetizado.
“As novas tecnologias nos livram de fardos. As calculadoras fazem aritmética por nós, e esquecemos como fazer contas. O ciberespaço é nossa memória coletiva”, diz James Gleick, escritor americano que ganhou 3 prêmios Pulitzer e em março lançou o livro The Information: A History, a Theory, a Flood, onde narra a evolução da informação até a enxurrada atual. Em julho, a psicóloga Betsy Sparrow, da Universidade de Colúmbia, nos EUA, publicou um estudo na revista Science em que analisou o impacto das ferramentas de busca em nossos cérebros. Após um experimento com 100 estudantes de Harvard, ela descobriu que esquecemos justamente o que sabemos que podemos encontrar na internet, lembramos melhor o que não está disponível online. Além disso, somos melhores em lembrar onde encontrar alguma coisa na internet do que da informação em si. Ou seja, o “efeito Google” atrapalha nossa memória retentiva de dados, mas aumenta nossas habilidades de procura. A internet virou, de fato, nossa memória externa. “Se escolhermos entregar nossa memória à tecnologia, talvez fiquemos livres para explorar nossa criatividade onde as máquinas ainda não podem competir”, afirma Gleick. E já há quem viva para isso.
Crédito: Maná E.D.I
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Em fevereiro de 2010, o psicólogo Matthew Walker mostrou que a memória pode ser melhorada com um simples cochilo à tarde. O professor da Universidade da Califórnia pediu que voluntários memorizassem 100 nomes e rostos ao meio-dia, para depois repetir o procedimento às 18h. A metade que tirou uma bela siesta de 90 minutos aumentou seus acertos em 10% – já quem ficou acordado piorou 10%. |
BACKUP DE LEMBRANÇAS
O
americano Gordon Bell, pioneiro da computação na década de 60, fez um
experimento consigo mesmo para mostrar como finalmente podemos escapar
do esquecimento biológico. Tudo começou em 1998, quando Bell decidiu
digitalizar todos os documentos de papel que guardava desde os anos 50:
fotos, anotações de trabalho e até imagens de suas roupas. No “ápice” do
experimento, retratado em O Futuro da Memória (2009, Editora Campus),
ele chegou a gravar quase tudo o que acontecia em sua vida. Para isso,
usava uma microcâmera em seu peito que tirava fotos a cada 5 segundos, e
carregava um gravador para captar todos os sons que ouvia. Tudo o que
Gordon lê num computador é automaticamente repassado para um sistema que
funciona como um Google pessoal. Lá, ele consegue checar
instantaneamente quando e com quem estava em dado momento, e até
encontrar o que aquela pessoa disse. “É ótimo ter um backup de memória”,
diz o pesquisador da Microsoft de 76 anos. Que critica as técnicas de
memorização.
Na verdade, há quem argumente que a cabeça é um dos piores lugares para se guardar uma memória – ao menos se você quiser ser uma versão mais próxima do que realmente aconteceu. Imagine que nosso armazenamento de informações é semelhante a uma trupe de atores (os neurônios) interpretando uma peça. Cada um sabe somente suas falas, que devem ser ditas após a deixa dos outros. Se um dos atores ficar doente, atrapalha a peça, forçando os companheiros a improvisar. A metáfora serve para explicar por que, ao recuperarmos algumas de nossas memórias, nós as fortalecemos, mas enfraquecemos e esquecemos outras que não estão relacionadas. E (desculpe, Gordon Bell) não há arquivo que combata isso.
O neurocientista Greg Dentre argumenta contra e a favor de aparelhos que “externalizam” nosso conhecimento. “Tirar coisas da memória de curto prazo é bom. Se você está pensando em sua lista de compras, nas roupas para lavar, nos afazeres do dia, todas essas coisas impõem uma carga cognitiva, tomando espaço e prejudicando sua performance.”
No entanto, ele admite que retirar coisas da memória e colocá-las em aparelhos externos não é necessariamente bom. “Passei anos trabalhando em maneiras de escrever e procurar minhas notas incrivelmente detalhadas. No final das contas, minhas memórias acadêmicas estavam agora fora de mim, mortas e inertes, inacessíveis e às vezes surpreendentes para mim mesmo”, lamenta o neurocientista.
Na verdade, há quem argumente que a cabeça é um dos piores lugares para se guardar uma memória – ao menos se você quiser ser uma versão mais próxima do que realmente aconteceu. Imagine que nosso armazenamento de informações é semelhante a uma trupe de atores (os neurônios) interpretando uma peça. Cada um sabe somente suas falas, que devem ser ditas após a deixa dos outros. Se um dos atores ficar doente, atrapalha a peça, forçando os companheiros a improvisar. A metáfora serve para explicar por que, ao recuperarmos algumas de nossas memórias, nós as fortalecemos, mas enfraquecemos e esquecemos outras que não estão relacionadas. E (desculpe, Gordon Bell) não há arquivo que combata isso.
O neurocientista Greg Dentre argumenta contra e a favor de aparelhos que “externalizam” nosso conhecimento. “Tirar coisas da memória de curto prazo é bom. Se você está pensando em sua lista de compras, nas roupas para lavar, nos afazeres do dia, todas essas coisas impõem uma carga cognitiva, tomando espaço e prejudicando sua performance.”
No entanto, ele admite que retirar coisas da memória e colocá-las em aparelhos externos não é necessariamente bom. “Passei anos trabalhando em maneiras de escrever e procurar minhas notas incrivelmente detalhadas. No final das contas, minhas memórias acadêmicas estavam agora fora de mim, mortas e inertes, inacessíveis e às vezes surpreendentes para mim mesmo”, lamenta o neurocientista.
Crédito: Maná E.D.I
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Nossa equipe de arte quis censurar essa informação, mas nosso compromisso é com a verdade: estudos indicam que um texto é mais memorável em Comic Sans – fonte tipográfica considerada abaixo de cafona. Uma pesquisa do ano passado feita em conjunto pelas universidades Princeton e Indiana mostrou que absorvemos melhor a informação que lemos em fontes que não estamos acostumados ou são difíceis de ler. A explicação é que a dificuldade de processamento de letras não familiares teria como efeito colateral facilitar o armazenamento daquela informação. Os pesquisadores pediram para os voluntários estudarem descrições de espécies de ETs. Metade estudou na clássica fonte Arial, tamanho 16. O resto leu o material com a fonte Comic Sans e assemelhadas – e em corpo 12. Resultado: com Arial, 73% de acerto; com Comic Sans, 86%. Por esses 13% a mais, não há elegância que resista. |
LEMBRANÇAS DO FUTURO
Pelo
sim, pelo não, a ciência já planeja desenvolver expansões artificiais
de memória. Em junho, um grupo de pesquisadores da Universidade Wake
Forest e da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos EUA, usou
eletrodos implantados no cérebro de ratos para restaurar e reforçar suas
memórias. Mas não há muito espaço para empolgação, já que ainda estamos
bem longe de plugarmos um pendrive em nossas cabeças. “Ninguém sabe
ainda quais são os mecanismos específicos fundamentais ao aprendizado e
memória. Não sabemos se eles são neuroanatômicos, bioquímicos, elétricos
ou uma combinação de todos”, afirma o psicólogo cognitivo James
Worthen. “De qualquer maneira, ainda não estamos numa posição de
garantir se esse é o futuro ou não.”
Essas incertezas não abalam o neuropsiquiatra austríaco-americano Eric Kandel, Prêmio Nobel de Medicina de 2000 pelas descobertas sobre a codificação de memórias de curto e longo prazo no cérebro. Para ele, a evolução da tecnologia caminha junto com a evolução da vida humana, e em longo prazo a humanidade aprenderá a lidar com os desafios que surgirem. “Agora, somos um novo tipo de humanos, com uma relação mais natural com as máquinas. Isso aumentará nossos poderes de alguma maneira, mas não sabemos quais serão os efeitos e consequências”, afirma.
Mas há especialistas que ainda defendem o bom e velho cérebro. “Uma boa memória é importante para a identidade e percepção de mundo de qualquer um”, alerta Ed Cooke, que além de mestre de memória é formado em psicologia e filosofia pela Universidade de Oxford e mestre em ciência cognitiva pela Universidade de Paris. Para Cooke, a memória é muito mais do que informação armazenada. “Se você aprendeu sobre arquitetura, ao olhar para uma casa ela parecerá diferente de como pareceria antes de você saber estas coisas. Não adianta pegar este conhecimento e colocá-lo em seu iPhone. A casa não irá mudar.”
O grande mestre de memória não espera que todo mundo memorize milhares de dígitos, cartas de baralho ou livros de cabo a rabo como ele. Acima de tudo, Cooke só gostaria que você largasse um pouco o smartphone e tentasse aprender alguma coisa enquanto se diverte com isso. Afinal, não faria mal lembrar melhor e ter mais conhecimento. Se isso compensa ou não, a escolha é sua.
Essas incertezas não abalam o neuropsiquiatra austríaco-americano Eric Kandel, Prêmio Nobel de Medicina de 2000 pelas descobertas sobre a codificação de memórias de curto e longo prazo no cérebro. Para ele, a evolução da tecnologia caminha junto com a evolução da vida humana, e em longo prazo a humanidade aprenderá a lidar com os desafios que surgirem. “Agora, somos um novo tipo de humanos, com uma relação mais natural com as máquinas. Isso aumentará nossos poderes de alguma maneira, mas não sabemos quais serão os efeitos e consequências”, afirma.
Mas há especialistas que ainda defendem o bom e velho cérebro. “Uma boa memória é importante para a identidade e percepção de mundo de qualquer um”, alerta Ed Cooke, que além de mestre de memória é formado em psicologia e filosofia pela Universidade de Oxford e mestre em ciência cognitiva pela Universidade de Paris. Para Cooke, a memória é muito mais do que informação armazenada. “Se você aprendeu sobre arquitetura, ao olhar para uma casa ela parecerá diferente de como pareceria antes de você saber estas coisas. Não adianta pegar este conhecimento e colocá-lo em seu iPhone. A casa não irá mudar.”
O grande mestre de memória não espera que todo mundo memorize milhares de dígitos, cartas de baralho ou livros de cabo a rabo como ele. Acima de tudo, Cooke só gostaria que você largasse um pouco o smartphone e tentasse aprender alguma coisa enquanto se diverte com isso. Afinal, não faria mal lembrar melhor e ter mais conhecimento. Se isso compensa ou não, a escolha é sua.
Da redação com Revista Galileu
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