cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é
O governador José Maranhão não se saiu tão ruim no primeiro confronto do segundo turno pela televisão. Não se saiu tão ruim em relação ao que a própria equipe esperava que saísse no primeiro turno, quando ( e por causa disso) o aconselhou a não participar de debates.
No primeiro bloco, aliás, deu-se a impressão que não havia motivo algum para Maranhão ter se ausentado dos confrontos do primeiro turno.
Na militância do PMDB, dava para se ouvir um “ufa” ao final do debate. Porque ela não estava torcendo para Maranhão ser melhor do que o ex-prefeito Ricardo Coutinho. Seria pedir demais. Apenas para que o governador pudesse ser melhor do que si próprio.
É como numa arena de gladiadores. Maranhão entra num debate querendo sair vivo. Saiu. E, para ele, já foi uma vitória.
O debate da Tv Clube, no entanto, comprovou uma coisa: o problema de Maranhão necessariamente não está em si próprio. Está no concorrente. Talhado nos debates de sindicato e nos plenários da Câmara Municipal de João Pessoa e na Assembleia Legislativa, o ex-prefeito Ricardo Coutinho tem melhor domínio de expressão e concatenação de ideias.
Foi superior.
E - o que é mais interessante - registrou os melhores momentos exatamente quando Maranhão se mostrava mais competitivo. Ou seja, Ricardo Coutinho parece estar preparado para debater com Maranhão, especialmente, quando o governador se supera.
Por uma razão simples. Maranhão pareceu bem treinado para perguntas e respostas. Mas não tinha tino para as réplicas e tréplicas. Foi exatamente nos debates fora dos textos de assessorias que Ricardo Coutinho crescia pra cima do governador.
O primeiro debate, portanto, vai servir para que os candidatos estudem suas potencialidades e carências. O governador José Maranhão tem diante de si um grande desafio: não precisa apenas torcer pra se sair bem. Tem que rezar pra Ricardo sair ruim.
Exorcizando a PEC 300 e o debate sobre religião
Porque não foi o que aconteceu, por exemplo, com o debate inevitável sobre a promessa da PEC 300. O governador José Maranhão começou o debate driblando a encruzilhada dos limites de gasto com pessoal estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal anunciando que a receita do Estado iria aumentar, além de alegar que tudo seria feito de forma escalonada em 18 meses.
Foi bem.
Mas não soube responder qual seria o impacto da folha e não teve resposta à provocação de Ricardo Coutinho a respeito do veto de 5% de reajuste para os servidores proposto pela Assembleia. Nem sobre as promessas registradas em cartório para Polícia Militar em 2006 que até então não foram cumpridas. “O candidato (Maranhão) está propondo um aumento que ele próprio não sabe dizer qual o impacto. Se vê, com todo respeito, que é uma proposta tipicamente eleitoreira”, disse Ricardo, fechando a questão.
Maranhão enrolou-se. “O impacto virá na lei que enviarei à Assembleia”. E ainda provocou Ricardo, alegando que o concorrente não tinha interesse em melhorar a situação da PM. Ricardo revidou anunciando que iria garantir acréscimo no salário do policial por produtividade.
Com uma pergunta de gaveta, o governador foi bem ao lembrar que Ricardo Coutinho, no passado recente, achava o projeto do PMDB uma maravilha. “O senhor mentia antes ou está mentindo agora”, provocou Maranhão. Parecia que o castelo do ex-prefeito, que apoio Maranhão em 2006, iria desabar. Ricardo reagiu: “Isso mesmo. Achávamos certo porque construímos seu programa de governo. Nós acreditávamos no senhor, mas o senhor assumiu e durante esses um ano e oito meses não colocou nada em prática. Deu uma guinada nas perseguições. E não chega a cumprir promessa que fez em cartório com a Polícia Militar”. Silêncio na militância do PMDB.
Os candidatos também exorcizaram o debate sobre religião. Ricardo teve a oportunidade de dizer que as denúncias sobre sua crença religiosa, ou falta dela, partiram do Conexão 15 e de gráfica que prestava serviço para o governo. Maranhão ficou em cima do muro. Nem disse que acreditava que Ricardo era ateu. Nem disse que era santo. “Sou cristão e não tenho nada a ver com isso. Respeito às liberdades religiosas”, declarou. Mas se enrolou ao defender o Conexão 15, porque chamou repetidas vezes o próprio núcleo da juventude de “Conexão 30”.
Curtas
No geral, o debate foi um bom raio-x para se medir como andam o preparo dos dois candidatos ao governo, apesar de ter sido mais marcado por provocações do que necessariamente por propostas.
Ricardo Coutinho ainda arriscou dizer que quer elevar o potencial da agricultura para 10% do PIB paraibano, isenção de ICMS para empresa que se instalarem longe dos grandes centros e ainda construção de hospital entre Bayeux e Santa Rita.
E José Maranhão reafirmou a intenção de pôr em práticas obras com o Porto de Águas Profundas, a Via Jaguaribe e a implantação da PEC 300 para PMs e policiais civis.
O debate também foi marcado por tentativa de desmentidos. Maranhão perguntou a Ricardo Coutinho como construir 223 maternidades em toda a Paraíba. Ricardo perguntou a Maranhão onde estavam as 36 escolas que ele disse que o governo construiu.
Para exorcizar demônios, ambos os candidatos falaram o nome de Deus no início e ao final do debate.
Ambos falharam, no entanto, ao não fazerem menção aos professores, que tem o dia comemorado nesta sexta.
O blog sabe porque Maranhão disse Conexão 30 no lugar de Conexão 15 ao se referir ao núcleo jovem da campanha do PMDB em João Pessoa. É que no segundo turno, além da sede instalada em Tambaú, o PMDB instalou nova sede na Ruy Carneiro.
Teve uma leve discussão entre os advogados Roosevelt Vita e Marcelo Weick nos corredores da TV Clube após o final do debate. Vita queria sair com Maranhão sendo carregado nos braços. Weick considerou exagero. Houve discussão. Roosevelt venceu. Maranhão foi levado nos ombros por dois ajudantes de ordem. Deve ter dormido alquebrado.
Luís Tôrres
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