Após 8 dias de protestos, presidente promete negociar com toda a oposição.
Coalizão de oposicionistas havia exigido sua saída imediata do governo.
Mubarak, que está há 30 anos no poder, afirmou que, nos meses que restam de seu quinto mandato, vai ajudar a cumprir as exigências da coalizão de forças oposicionistas que o desafia -inclusive, fazer reformas do judiciários que ajudem a combater a corrupção.
Imagem
da TV estatal egípcia mostra o presidente Hosni Mubarak durante
pronunciamento ao país, nesta terça (1º) (Foto: Reprodução / AP)
Ele disse que a prioridade é a "estabilidade da nação" e prometeu dialogar com todas as forças da oposição.Uma multidão, ainda reunida durante protestos nas ruas do Cairo, reagiu com festa ao seu anúncio, que foi mostrado pela TV estatal.
A oposição, que hoje organizou grandes protestos nas principais cidades egípcias, havia exigido sua saída imediata para iniciar negociações. Eles ainda não se procunciaram sobre o discurso de Mubarak, de 82 anos.
A oposição aumentou a pressão nesta terça pela sua saída, ao realizar grandes manifestações populares que tentaram reunir um milhão de pessoas nas ruas de várias cidades contra o governo, que era contestado por conta da má situação econômica da maioria da população.
Também nesta terça, o rei da Jordânia -outro importante aliado dos EUA no mundo árabe- anunciou uma mudança no governo do país, também depois de protestos populares.
Condição para negociar
A Irmandade Muçulmana havia anunciado, em nome da coalizão de grupos de oposição no Egito, que só começaria a negociar quando Mubarak deixasse o poder.
O ex-diplomata Mohamed ElBaradei, um dos principais nomes da oposição, disse em entrevista à TV Al Arabiya que Mubarak deveria deixar o país no máximo até sexta-feira, e que seria necessária uma discussão ampla para definir o futuro político do país após sua saída.
Frank Wisner, enviado do presidente dos EUA, Barack Obama, teria encontrado Mubarak, segundo fontes do governo dos EUA, antes do discurso. Ele teria enviado ao egípcio uma mensagem de Obama sobre a necessidade de uma "transição pacífica" no país.
O Exército, cumprindo o prometido na véspera, não reprimiu os manifestantes, no oitavo dia seguido de protestos populares contra o regime.
Manifestantes tomam as ruas do Cairo nesta terça-feira (1º) (Foto: AP)
Tanques do Exército guardaram os principais acessos à praça, e helicópteros militares sobrevoavam o local, mas sem intervir.
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As autoridades tentaram limitar os deslocamentos da população e obstruir ao máximo os contatos dos organizadores dos protestos da terça.
O Exército fechou os acessos ao Cairo e a outras cidades onde foram convocadas passeatas.
A autoestrada que liga Alexandria ao Cairo foi bloqueada a um quilômetro da capital por um posto de controle militar.
Uma longa fila de caminhões de mercadorias e automóveis aguardava autorização para passar, mas os soldados impediam o avanço de veículos para a capital.
Quase 50 mil pessoas se reuniram diante da mesquita Qaed Ibrahim e da estação de trem, no centro de Alexandria, segunda maior cidade do Egito.
Também houve manifestações em Ismailia e cem idades no delta do Nilo, como Tanta, Mansoura e Mahalla el-Kubra.
Na segunda, os trens deixaram de funcionar, e o último provedor de internet egípcio em funcionamento, o Grupo Noor, parou de operar, o que deixou o país sem acesso à rede.
Em resposta ao bloqueio à internet, a Google anunciou a criação de uma forma de acesso ao Twitter pelo telefone.
Concessões
Na véspera, Mubarak havia feito uma série de concessões à oposição, mas que não convenceram.
O vice-presidente Omar Suleiman, nomeado no final de semana, foi à TV na noite de segunda pedir diálogo com todos os partidos políticos.
Manifestante grita durante protesto nesta terça (1º)
no Cairo (Foto: AP)
Suleiman afirmou ter sido incumbido pelo próprio Mubarak de levar
adiante as conversas, que podem incluir alterações na Constituição do
país em crise -o que era uma das reivindicações dos oposicionistas.no Cairo (Foto: AP)
Também na segunda, Mubarak anunciou um novo gabinete.
Por um decreto de Mubarak, foram indicados novos ministros das Finanças e do Interior.
Outros nomes do gabinete,como o de Field Marshal Hussein Tantawi, ministro da Defesa, e o chanceler, Ahmed Aboul Gheit, foram mantidos.
A pasta do Interior foi para Mahmoud Wagdi, um oficial de polícia reformado. Ele substituiu Habib el-Adly, bastante criticado pela violência com que respondeu aos protestos populares.
O vice-presidente Suleiman também disse que a prioridade do novo governo seria combater a pobreza, o desemprego e a corrupção.
Quase 50 Organizações Não Governamentais (ONGs) egípcias de defesa dos direitos humanos pediram a Mubarak "que se retire do poder para evitar um banho de sangue".
Os seis primeiros dias de protestos deixaram um saldo de mais de cem mortos e milhares de feridos, segundo várias estimativas.
Governos, companhias aéreas e operadoras de turismo agiram em conjunto para retirar estrangeiros, causando confusão no aeroporto. Os EUA ordenaram nesta terça a saída do pessoal não essencial de sua embaixada no Cairo.
País chave
O Egito, o mais populoso dos países árabes (80 milhões de habitantes), é um aliado do Ocidente na região e administra o Canal de Suez, essencial para o abastecimento de petróleo dos países desenvolvidos.
Além disso, é um dos dois países árabes (o outro é a Jordânia, que também enfrenta protestos) que assinou um tratado de paz con Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, mencionou o fantasma de um regime ao estilo iraniano, caso, aproveitando o caos, "um movimento islamita organizado assuma o controle do Estado".
Suez
O Canal de Suez, eixo estratégico do comércio mundial, funcionava normalmente nesta terça apesar dos protestos, segundo a Autoridade do Canal.
O canal, que une Porto Said, no Mediterrâneo, a Suez, no Mar Vermelho, representa a terceira maior fonte de renda estrangeira do Egito.
O volume de seu tráfego é considerado indicador da saúde do comércio marítimo através do mundo.
O Conselho de Segurança Nacional dos EUA está monitorando os efeitos da crise egípcia nos mercados financeiro e de petróleo, disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
Patrimônio cultural
A diretora geral da Unesco, Irina Bokova, lançou um apelo para que "se proteja o patrimônio cultural do Egito, e se respeite a liberdade de expressão".
Em um comunicado, Bokova manifestou sua compaixão pelas vítimas do "protesto cívico", e deplorou os mortos nas manifestações, antes de pedir que o patrimônio cultural egípcio, "símbolo da identidade nacional" e "legado ancestral da humanidade", seja respeitado.
"Uma boa prova disse é esse cordão humano de proteção que centenas de cidadãos formaram em torno do museu para protegê-lo", destacou Bokova, aludindo à iniciativa de jovens egípcios em relação ao Museu Egípcio do Cairo, que guarda verdadeiras relíquias da antiguidade.
Na nota, a diretora da Unesco expressa "sua preocupação com a situação da livre circulação da informação e da liberdade de imprensa" no Egito, criticando a suspensão dos acesso à internet, o bloqueio da imprensa e os espancamentos de jornalistas.
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