O advogado Maurício Pereira diz que vai apresentar nesta
segunda-feira o pastor Wladimir da Silva Furtado à Justiça Federal. O
pastor não conseguiu arrecadar dinheiro suficiente para cobrir o cheque
sem fundos de R$ 109 mil, usado para pagar a fiança e sair da prisão na
semana passada. Ele é um dos suspeitos de desvio de dinheiro em
convênios firmados pelo Ministério do Turismo, que vieram a público na
semana passada por meio da Operação Voucher, da Polícia Federal.
Na manhã desta segunda, em entrevistas a uma rádio e a uma TV do
Amapá, ele disse que não tem dinheiro para cobrir o cheque caução que
deu para pagar a fiança de R$ 109 mil - o equivalente a 200 salários
mínimos - e ser solto na madrugada de sábado. Ele pediu doações de cem a
mil reais para fiéis e amigos, a serem depositadas na conta da mulher
dele, que foi quem assinou o cheque.
- Guarde o comprovante, que vamos devolver o seu dinheiro depois - disse ele em entrevista à TV, acrescentando:
- Nós moramos no Amapá, gostamos do Amapá, respondemos por dez
anos pela prefeitura (de Ferreira Gomes) e nunca precisamos ser presos -
disse Wladimir,
que já tinha a ficha suja por outros casos de desvio de verbas
.
Segundo o advogado do pastor, Maurício Pereira, o cheque assinado
pela mulher de Wladimir não tem fundos. Se não conseguir as doações de
parentes, amigos e pessoas da igreja, ele, por iniciativa própria, se
reapresentará à Justiça Federal. Nesse caso, ele poderá ser preso
novamente.
- Até o final do expediente bancário, se ele não tiver recursos
suficientes, ele vai se apresentar à Justiça - disse o advogado Maurício
Pereira.
Wladimir negou ainda ter dito ao jornal "O Estado de S. Paulo"
que tenha recebido uma oferta da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP) para
ser laranja dela. Ele também disse não ter cometido nenhuma
irregularidade nem ter passado dinheiro à deputada. Quatro pessoas
também investigadas na Operação Voucher, da Polícia Federal,
apontaram o envolvimento de Fátima Pelaes
com a Conectur e o Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável).
A Conectur é uma das empresas investigadas por desvio de R$ 4
milhões no Ministério do Turismo. A empresa foi contratada por R$ 250
mil pelo Ibrasi. A ONG recebeu dinheiro do governo e, segundo
investigação, não executou o serviço. A Conectur também recebeu, em
2008, R$ 2,5 milhões do ministério para fazer um levantamento sobre o
potencial turístico do Amapá.
Pastor diz que ficou surpreso com a aprovação de convênio com sua ONG
Com
quatro condenações no Tribunal de Contas da União (TCU), o pastor
Wladimir da Silva Furtado disse que nem ele mesmo sabe como a cúpula do
Ministério do Turismo aprovou a liberação de recursos para sua ONG, a
Conectur (Cooperativa de Negócios e Consultoria Turística). O pastor
mandou os documentos para o ministério, mas achou que o pedido não seria
acolhido. Furtado já teve o mandato de prefeito de Ferreira Gomes, no
Amapá, cassado por desvio de merenda escolar e está sendo cobrado para
devolver pelo menos R$ 10 milhões aos cofres públicos. Para o Ministério
Público, as falhas na fiscalização abriram as portas para a corrupção
com dinheiro do Ministério do Turismo.
- Achei que não fosse passar, porque poderia ter faltado alguma
documentação, uma coisa que fosse exigida e a gente não teria. Mas, para
minha surpresa, foram as certidões todas sem coisa nenhuma. A resposta
que eu tive foi a Conectur aprovada - disse Furtado.
A Conectur recebeu R$ 2,75 milhões do ministério desde 2008. Da
primeira vez recebeu R$ 2,5 milhões para fazer um levantamento sobre o
potencial turístico do Amapá. Da segunda vez, teria recebido R$ 250 mil
do Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura
Sustentável) para fazer estudos similares. As duas ONGs estão no centro
das investigações da Operação Voucher, da PF, que resultou na prisão de
36 pessoas na semana passada, entre elas o secretário-executivo do
Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa.
O pastor disse que para executar o primeiro convênio, de R$ 2,5
milhões, foi pressionado a contratar funcionários de pessoas
supostamente ligadas à deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP). Entre as
pessoas que teriam pressionado, ele citou o lobista Fábio de Mello, que
também foi preso na operação.
- Vieram mais de 50 técnicos dizendo: "ah, foi a deputada que indicou" - disse Furtado.
Segundo ele, o intermediário da deputado teria indicado contador,
advogado e até secretária para ajudar na execução do convênio, mas ele
alega que não aceitou.
As declarações do pastor sobre as supostas indicações da deputada
coincidem com o depoimento da turismóloga Fabiana Lopes Freitas, sócia
da empresa Sinc Recursos Humanos. Ao ser indagada pela Polícia Federal
na terça-feira da semana passada, Fabiana disse que a deputada
participou de reuniões em que se discutia a indicação das pessoas que
seriam contratadas.
O Globo
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