Os
brasileiros vivem um grande dilema na educação. De algum modo todos
educamos uns aos outros, mas pais, professores e profissionais da mídia
de maneira muito especial influenciam mais na formação do semelhante.
Por
motivos óbvios, a televisão, assim como o rádio e o cinema, não seria o
que hoje é, não fosse a Segunda Guerra Mundial. Ainda durante aquele
conflito, e muito mais depois, o Brasil recebeu enxurrada de
investimentos norte-americanos e com eles veio o modo de viver dominante
nos EUA. Nelson Rockfeller cunhou expressão memorável: onde entrarem
nossos filmes, entrarão também nossos produtos. E foi o que aconteceu,
não apenas com os filmes.
Naturalmente,
também a Europa, com exceção do Leste, foi invadida de outros modos
pelos EUA. Mas se a Europa tinha defesas contra esta outra invasão e o
Brasil, não.
Exemplificando.
Uma pessoa bem formada assiste a um desses enlatados da televisão, hoje
digitalizados, e percebe que a solução para os conflitos apresentados é
sempre o braço armado. É raro que haja outro tipo de desfecho. Depois é
que entram o Direito, o fórum, os promotores, os advogados, os juízes, a
cadeia, a punição. Mais raro ainda é um tratamento preventivo.
Editores desatentos
Em
encontros com juízes em nossa universidade perguntamos a eles por que
absolvem ou condenam, como fazem isso e por que agem do modo como agem.
Eles precisam da sociedade e nós deles, para prevenir, para educar, de
tal modo que a punição seja, não o primeiro, mas o último recurso.
O
cidadão bem educado é capaz de discernir que muitas vezes a TV está
entortando o modo de viver, mas os indefesos, não. Para eles, a TV é a
única escola que têm. E o que aprendem? Que o bandido, faça o que faça,
ganha espaço na mídia. Mas para aquele que escreve um livro, grava um
cedê, faz um filme, destaca-se na música, na pintura, no teatro ou em
outras manifestações artísticas, o espaço dedicado é um cantinho na
mídia, quando ela se digna a dar esse cantinho, porque em geral não dá
nada ou dá pouco.
E
poucos se queixam disso. E por quê? Porque somos poucos os que damos
atenção a isso. Sai um livro ou uma publicação importante em qualquer
área, quem fica sabendo, quem dá atenção? Poucos. Somos poucos.
Faz
tempo que os tiros deixaram a TV e agora se multiplicam, não mais no
espaço imaginário da telinha, mas na rua, na escola, dentro de casa, e
com a velha roupagem que ali vestira: a solução para os conflitos passou
a ter o braço armado como ferramenta quase exclusiva ou pelo menos
dominante.
Toda
semana sabemos de mais uma tragédia. Em todo o Brasil, proliferam os
exemplos tomados, consciente ou inconscientemente, das lições
ministradas pela televisão. Todo mundo vê TV. É preciso levar em conta,
sem censura, o que ela anda ensinando, talvez sem que seus editores
percebam ou sem que levem em conta a situação daqueles aos quais se
dirige.
O cenário inteiro
Em
resumo, outra vez a solução passa por uma educação diferente, não mais
exclusiva da escola, onde os alunos, aliás, passam muito pouco tempo.
Talvez
sem querer, muitos programas de televisão ensinam e proclamam que é
melhor ser jogador badaleiro, prostituta disfarçada e o que se entende
vagamente por celebridade, sem esquecer que político corrupto é também
uma boa escolha, pela quase absoluta falta de punição, do que ser um
profissional qualificado e pessoa de bem.
Vejamos o que se paga a uns, o que se paga a outros, a atenção que a mídia dá a uns e outros – e temos o quadro completo.
*é
escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e
um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro;
autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos
Reunidos (Editora LeYa)
Deonísio da Silva*
Observatório da Imprensa
Fonte: FNDC
Artigo enviado por Manuel Batista
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