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Descoberto carnívoro brasileiro mais antigo que os dinossauros
Desenho de Voltaire Neto, mostrando o Pampaphoneus Biccai em ação
Um estudo publicado no dia 17 de janeiro conseguiu identificar um novo predador que habitou o Brasil há 260 milhões de anos. O animal é o carnívoro mais antigo da América do Sul – anterior inclusive aos dinossauros. O Pampaphoneus Biccai foi encontrado no Rio Grande do Sul, por uma equipe formada por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Witwatersrand, na África do Sul e da Universidade Técnica de Istambul, na Turquia.
O paleontologista Juan Carlos Cisneros, nascido em El Salvador e professor da Universidade Federal do Piauí, liderou o estudo. Em entrevista à GALILEU, ele contou como usou o Google Earth para descobrir o fóssil e explicou por que sua pesquisa pode mudar o que se conhecia do passado da Terra.
Pampaphoneus Biccai , desenhado por Juan Carlos Cisneros.
Você pode começar nos explicando como usou o Google Earth para fazer a pesquisa?
Isso aconteceu no ano de 2008. Eu estava com uma bolsa de pós-doutorado para fazer pesquisas sobre animais do Período Permiano, o mesmo do Pampaphoneus Biccai. Meu interesse era não apenas procurar em lugares conhecidos, mas encontrar novos sítios paleontológicos. Quando procuramos em lugares novos, aumentamos a chance de encontrar algo diferente. Começamos a analisar imagens de satélites e a comparar essas imagens com locais em que já sabíamos que havia fósseis. Isso foi uma maneira de calibrar nosso olho, para sabermos o que procurar. Procurávamos por áreas onde não houvesse vegetação, mas com um tipo específico de rochas formadas no Permiano.
E é possível perceber essa formação pelo satélite?
Tive que aprender a fazer isso. Demorou alguns meses, foi na tentativa e erro. Na primeira viagem de campo que fizemos, metade das localidades que visitamos estavam erradas, era um alarme falso. Com o tempo, fomos melhorando a porcentagem de acertos. Um deles se revelou um sítio com vários fósseis. Nele, encontramos o Pampaphoneus.
O uso do Google Earth para esse tipo de pesquisa é normal?
Não, as pessoas me chamavam de maluco por estar fazendo isso.
O que exatamente foi encontrado?
Encontramos só o crânio do animal, mas não se descarta que futuros trabalhos de campo achem mais ossos desse mesmo indivíduo. Isso foi em 2008. Passamos muito tempo estudando o fóssil, o que é normal. Primeiro fizemos uma limpeza nele, que tinha minerais como óxido de manganês grudados nos ossos. Isso tem que ser feito com cuidado, porque o fóssil é frágil e os minerais são duros.
E como era esse animal?
Para começar o Pampaphoneus Biccai não tem nenhum parentesco com os dinossauros. Ele não é um réptil, mas um precursor dos mamíferos. Pelo tamanho de seu crânio e comparando a esqueletos parecidos encontrados em outras partes do mundo, calculamos que ele tinha uns 3 metros de comprimento. Ou seja, ele teria o tamanho de um leão, e aproximadamente o mesmo peso, entre 250 e 300 quilos. Não sabemos se ele tinha pelos - ninguém sabe se os precursores dos mamíferos tinham pelos. O animal não era como os répteis, que rastejam no chão. Nem como os mamíferos, que andam mais erguidos. Ele estaria no meio termo: mais erguido que um crocodilo, porém menos que um leão.
Pelo formato de seus dentes, sabemos que era um animal carnívoro. Ele possui caninos grandes, afiados e recurvados, que são efetivos para prender uma presa. Na verdade, ele era hipercarnívoro: um animal que se alimenta quase que exclusivamente de carne, como são os felinos e lobos de hoje em dia. Estava no topo da cadeia alimentar da época.
Crânio do Pampaphoneus Biccai, desenhado por Juan CArlos Cisneros
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Ele é o primeiro carnívoro terrestre do Período Permiano encontrado na América do Sul?
Mais que isso, ele é o carnívoro terrestre mais antigo encontrado no continente. Muito mais antigo que os dinossauros.
Você pode dar detalhes sobre a época em que ele vivia?
Ao longo da história, os continentes estiveram juntos e separaram várias vezes. No Período Permiano, os continentes estavam se juntando pela última vez, para formar a Pangeia. Além disso, esse período foi caracterizado por ter muito vulcanismo, o que acarretou na maior extinção em massa que se conhece. Maior que a dos dinossauros.
Vocês descobriram “parentes” do animal em países como Rússia e África do Sul. O que isso significa?
Significa bastante. Ele é um parente muito próximo dessas espécies. Na época em que os continentes estavam próximos, a África do Sul ficava muito perto do Rio Grande do Sul, então o parentesco era esperado. A surpresa foi a proximidade com os fósseis da Rússia. Tivemos que repensar o modo como supúnhamos que era a posição dos continentes naquele tempo. A América do Sul tinha que estar mais próxima da Europa do que costumamos pensar.
Essa é uma teoria nova ou vocês estão trazendo provas para uma teoria antiga?
Já existe um modelo que propõe isso. Ele se chama “Pangeia B”. A “Pangeia A” é aquela que encontramos na maioria dos livros. A “Pangeia B” é um modelo alternativo, em que a América do Norte está um pouco mais pra oeste e a América do Sul está em contato direto com a Europa. Na verdade o que fizemos é dar evidências para esse modelo, que foi proposto já nos anos 70.
E o que vai ser feito do crânio do Pampaphoneus Biccai?
Ele está em Porto Alegre e vai ser exposto no museu de Paleontologia da Universidade. Isso será feito ainda este ano.
Da redação do blog com Revista Galileu
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