Cinco
capitais brasileiras – Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e
Vitória – estão participando dos testes em seres humanos de uma vacina
contra a dengue. Os dados serão analisados em conjunto com os de outros
países latino-americanos e asiáticos, onde a dengue também é uma
epidemia. Em testes anteriores, o medicamento tem se mostrado seguro
para a saúde.
Hoje o único método de prevenir a transmissão do vírus é agir sobre o Aedes aegypti, mosquito transmissor, seja com inseticidas – fumacê – ou com a eliminação dos criadouros – água parada.
Os
voluntários escolhidos para a pesquisa têm entre 9 e 16 anos e são
acompanhados de perto por uma equipe médica enquanto fizerem o
tratamento. Dois terços dos pacientes recebem a vacina candidata e os
demais tomam doses de placebo – uma substância que não tem efeito no
corpo.
A
vacina é composta por três doses, que devem ser dadas com intervalos de
seis meses. Todos os pacientes serão observados durante o período, e
qualquer caso de febre deve ser relatado aos médicos pesquisadores. O
objetivo é saber quais crianças e adolescentes vão ter dengue ou não.
Para
que ela seja considerada eficiente, o número – relativo – de casos de
dengue entre os pacientes que tomaram a vacina precisa ser no máximo 30%
do número de casos entre os que receberam doses de placebo.
“Essa
premissa de 70% de eficácia foi compartilhada com alguns órgãos
reguladores como, por exemplo, a Organização Mundial de Saúde”, diz o
médico Pedro Garbes, diretor regional de desenvolvimento clínico na
América Latina do Sanofi Pasteur, laboratório responsável pela produção
da vacina.
Os
voluntários precisam morar em áreas expostas ao risco de transmissão de
dengue; caso contrário, é natural que nenhum deles desenvolva a doença e
a pesquisa não tenha validade.
“Eu
gosto de dar como exemplo uma coisa meio absurda. Você está testando
uma vacina para HIV e escolhe vacinar cem freiras num convento. Dois
anos depois, você volta, faz os exames e fala que a vacina funcionou
muito bem. Você escolheu a população errada e se esqueceu de perguntar
se elas tinham risco de adquirir a infecção”, justifica Reynaldo Dietze,
professor da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador da
pesquisa no Brasil.
Como funciona
Toda
vacina é feita com material do próprio agente causador da doença – um
vírus, no caso da dengue –, em forma atenuada ou morta, que serve para
preparar o sistema imunológico. Após tomar a imunização, o corpo será
capaz de reconhecer o vírus e terá anticorpos para combatê-lo.
A
dengue tem quatro tipos de vírus diferentes que provocam os mesmos
sintomas. Uma vacina tem que ser capaz de preparar o sistema imunológico
para todos eles. Nessa pesquisa, os cientistas trabalharam
separadamente com cada um dos tipos. É como se eles tivessem feito
quatro vacinas diferentes e as misturado em uma só.
No
passado, vacinas que usavam o próprio vírus da dengue provocaram uma
reação muito forte nos pacientes e não foram consideradas seguras. Por
isso, os cientistas recorreram à engenharia genética para colocar o
material genético dos vírus da dengue em outro organismo.
“Recortou-se
parte do seu genoma e se colocou essa parte do genoma deles em outro
vírus: o vírus vacinal da febre amarela”, conta Pedro Garbes. Segundo o
médico, a vacina da febre amarela já existe há 70 anos e é considerada
bastante segura.
Caso a vacina seja aprovada, o laboratório pretende colocá-la no mercado em 2014.
blog Saúde doVale
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